Estará a saúde dos trabalhadores portugueses em Burnout?
Os trabalhadores faltam ao trabalho, devido ao stress e a problemas de saúde psicológica, até 6,2 dias por ano. Este é um dado do mais recente estudo desenvolvido em Portugal pela Ordem dos Psicólogos, em 2020, sobre o “Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho em Portugal”. São números alarmantes com custos diretos na produtividade das empresas, mas com custos indiretos, clinicamente significativos, ao nível dos riscos psicossociais e da saúde física e psicológica dos trabalhadores. Portugal está classificado como o 3º país europeu com a maior proporção de colaboradores (28%) que diz que o stress relacionado com o trabalho “é muito comum”. São dados de um estudo publicado em 2013 pela European Opinion Poll on Occupational Safety and Health.
O que é o Burnout?
O stress profissional ocorre quando um indivíduo considera que as exigências do seu papel profissional são maiores do que as suas capacidades, não apresentando por isso os recursos necessários para realizar o seu trabalho. A exposição recorrente e crónica a estes fatores de stress resulta num estado de burnout, que culminam na perceção de ineficácia e de incapacidade por parte do trabalhador para gerir as tarefas mais básicas da sua vida diária e profissional. A 27 de maio de 2019, a OMS passou a incluir o burnout na lista de doenças, definindo-o como um estado de esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma atividade profissional.
Metaforicamente falando “o Burnout é equivalente ao copo de água que vai enchendo gota a gota e que, a certo momento, transborda”.
Sinais e sintomas de Burnout
· Problemas físicos: problemas gastrointestinais, taquicardia, tensão arterial elevada, problemas cardiovasculares, enxaquecas, fadiga profunda e crónica, dor e tensão muscular, alterações no sono (especialmente insónia) e apetite, resposta imunitária enfraquecida;
· Problemas emocionais: tristeza, apatia, alienação, frustração, raiva / revolta, tédio, desespero, sentimento de injustiça e falta de recompensa, irritabilidade, ansiedade, depressão, baixa auto-estima, despersonalização;
· Problemas cognitivos: problemas de concentração e atenção, confusão, maior lentidão na execução das tarefas, menos criatividade, pensamentos persistentes sobre o trabalho (ruminação), hipervigilância e necessidade de controlo;
· Problemas comportamentais: comunicação impessoal, atitude crítica, evasão, impulsividade, reactividade, agressividade, abuso ou aumento do consumo de substâncias (tabaco, álcool, drogas, medicamentos), auto-medicação;
· Problemas sociais: isolamento, relações distantes ou com menos envolvimento e empatia, maior sarcasmo ou cinismo nas relações, problemas com as relações familiares ou menos contacto com os amigos;
· Problemas laborais: atrasos, absentismo, licença por doença, rotatividade, mais erros no trabalho, menos tempo na prestação de serviços e menos cuidados, baixa realização profissional, vontade de abandonar o trabalho, menos produtividade e eficácia profissional. A tomada de consciência do impacto destes sinais e sintomas alerta-nos para o facto de as empresas terem de assumir uma atitude imprescindível na avaliação de riscos psicossociais e na definição e adoção de medidas tendo em vista a sua prevenção.
Dicas de prevenção do Burnout para os TRABALHADORES
1. Procure adotar um estilo de vida mais saudável
Comer corretamente, praticar exercício regularmente e descansar o suficiente dá-lhe mais energia para lidar com dificuldades da vida.
2. Estabeleça limites Aprenda a dizer que “não”; sempre que possível, evite ler emails e mensagens do trabalho fora do expediente, incluindo seu horário de almoço e intervalos; crie relacionamentos baseados na confiança e honestidade, inclusive com a chefia; não abra mão das férias: esse é um período fundamental para “recarregar as baterias”.
3. Faça uma pausa diária de tecnologias Estabeleça um tempo por dia para se abstrair completamente de todas as tecnologias. Deixe de lado o seu computador, desligue o seu telemóvel.
4. Potencie o seu lado criativo A criatividade é um antídoto poderoso para o burnout. Tente algo de novo, comece um projeto divertido ou continue a realizar o seu hobbie favorito. Escolha atividades que não estejam relacionadas com o seu trabalho.
5. Aprenda a gerir o stress Quando os sintomas de burnout começam a aparecer, poderá sentir-se incapaz, no entanto tem muito mais controlo sobre o stress do que pensa. Aprender a gerir o stress pode ajudá-lo a restabelecer o equilíbrio.
6. Defina objetivos a curto prazo Escreva as suas metas, tanto profissionais quanto pessoais. O hábito de planear e ver diariamente o que precisa ser feito no dia, na semana ou até mesmo no mês, pode aliviar a tensão e as preocupações futuras sem causar ansiedade.
7. Intensifique e valorize os relacionamentos pessoais e familiares Envolva-se em atividades sociais e de lazer e não abdique dos tempos livres em prol do trabalho. Neste âmbito também é fundamental promover uma comunicação aberta nas relações de intimidade que favoreça a expressão emocional.
8. Realize psicoterapia para prevenir a evolução do stress ocupacional
Dicas de prevenção do Burnout para as EMPRESAS
1. Ofereça um trabalho flexível tanto quanto possível Impor horários rígidos das 9h às 18h pode ser menos produtivo e mais stressante do que dar a liberdade ao colaborador de realizar o seu trabalho no horário que for mais confortável e produtivo para si;
2. Forneça feedbacks E análises de desempenho cuidadosos e frequentes – Incentive os funcionários a refletirem sobre seu próprio desempenho e elogie o trabalho bem executado;
3. Traga a inteligência emocional para o local de trabalho Para evitar o burnout com o trabalho os empregadores precisam de levar a empatia e a compaixão para o local de trabalho. Os líderes devem cultivar a inteligência emocional nas suas interações, praticar a escuta ativa e esforçarem-se para criar uma cultura de confiança;
4. Invista na experiência positiva do colaborador Investir em métodos e ações que ajudem a melhorar a experiência do funcionário na empresa faz com que as equipas se sintam mais confortáveis no ambiente de trabalho;
5. Respeite o direito às férias e folgas Ao terem seus dias de férias cumpridos da maneira correta, os funcionários sentem-se mais respeitados e conseguem ter dias de descanso, que são fundamentais para prevenir o burnout no trabalho;
6. Procure avaliar e melhorar o ambiente de trabalho Um ambiente de trabalho positivo, acolhedor e harmonioso ajuda a prevenir o burnout; Para isso é crucial fomentar relações positivas, com base num clima de abertura e bom relacionamento entre os colegas de trabalho;
7. Crie espaços e momentos de lazer no próprio contexto de trabalho Crie momentos que fortaleçam as ligações entre os membros da organização e permitam, de quando em vez, quebrar as rotinas diárias
8. Garanta as condições para um acompanhamento psicológico e/ou psicoterapêutico continuado, caso este seja solicitado por um trabalhador.
Autor: Drª Maria João Couto e Drª Beatriz Fernandes