Qual é o retrato que faz do acompanhamento e da reinserção laboral do doente com Covid-19?
O regresso ao trabalho do doente previamente infetado com COVID-19 tem de sofrer uma avaliação prévia, que vai corresponder às diversas situações clínicas e aos vários graus de gravidade da doença que o atingiu. Fala-se cada vez mais das sequelas a médio e longo prazo. Uma permanência nos cuidados intensivos pode trazer sequelas a nível do aparelho respiratório, essencialmente, mas não só. Sabe-se que há uma cascata inflamatória muito grave que pode comprometer vários órgãos. Há, por isso, uma necessidade de avaliar de forma rigorosa o regresso ao trabalho de cada indivíduo e ponderar alguns ajustes a fazer no seu posto tendo em conta a situação clínica. É também muito importante termos um acompanhamento periódico desses trabalhadores e ter um registo, uma monitorização da sua evolução clínica geral. Recolher essa informação pode ser essencial para uma posterior partilha para melhor conhecimento da doença.
A pandemia veio, involuntariamente, abrandar o tratamento, o rastreio e o diagnóstico de outras doenças. O que se pode fazer para continuar o diálogo informativo e o rastreio precoce que é tão importante em muitas patologias?
Como sabemos, todos os serviços e recursos foram reorganizados para dar resposta à pandemia. Os meios técnicos e humanos tornaram-se esgotados e próximos da rutura… No nosso contexto, ao nível das empresas, com intervenção das nossas equipas multidisciplinares tentamos dar o melhor apoio possível através da continuidade dos exames periódicos, mas também com a prescrição de exames complementares sempre que necessário e com a verificação de resultados analíticos… E também com a continuação das campanhas de sensibilização.
Quando falamos do doente, falamos também do papel do cuidador e dos profissionais de saúde. Fale-nos um pouco de qual tem sido o processo de bastidores da SEPRI?
A SEPRI sempre esteve presente desde o início da pandemia e, para isso, teve de facto um grande trabalho de backoffice ao nível da estrutura interna que cresceu e aprimorou processos para conseguir sustentar a presença das equipas no terreno.
A SEPRI tem um papel significativo na implementação da testagem no conselho de Braga, no contexto laboral e não só, e esse processo exige trabalho “invisível” ao nível dos registos diários, da comunicação dos resultados junto das autoridades de saúde pública, junto da ARS Norte… E desde o início da pandemia procuramos também divulgar e reforçar todas as medidas de proteção relativas à doença emitidas pelas entidades oficiais.
O dia mundial do doente merece também que se fale da doença psicológica, que ainda é muitas vezes tabu. De que forma é que a pandemia nos alertou para a importância da saúde mental equiparada à saúde física?
A avaliação da saúde psicológica no contexto da pandemia parece-me absolutamente essencial. Inúmeros estudos claramente indicam que o impacto da Covid-19 em termos de saúde mental será enorme. Sentimos a necessidade desde o início de trabalhar as questões do bem-estar psicoemocional junto dos trabalhadores e dos seus familiares. O confinamento, o teletrabalho, a mudança nas rotinas familiares, trouxeram novos problemas e desafios aos quais procuramos dar resposta com a nossa equipa de psicólogos que articula, sempre que necessário, com a Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Um dos valores da SEPRI é Inovação. Como é que a inovação e a tecnologia podem estar ao serviço do doente com Covid-19 e não só?
Têm surgido sobretudo novas abordagens ao nível do diagnóstico. Os testes utilizados até agora são o teste RT-PCR e o teste rápido de antigénio, ambos com recurso a zaragatoa. Continuam a ser estes os testes reconhecidos e enquadrados nas normas das entidades oficiais. Alguns testes inovadores têm surgido, nomeadamente, no que diz respeito à testagem com recurso a uma amostra de saliva do utente. Este pode ser eventualmente um processo mais fácil e confortável… A SEPRI está a levar a cabo um estudo comparativo entre estes novos testes e o teste de antigénio com zaragatoa nasal, com o intuito de avaliar a fiabilidade e a segurança clínica dos mesmos. Ainda estamos numa fase de análise desses resultados e a aguardar também orientações das autoridades de saúde pública, para tomar uma decisão quanto à sua implementação. Além da testagem, a tecnologia está ao serviço do utente através da videoconsulta. A SEPRI faz videoconsultas em várias especialidades, incluindo na psicologia e na nutrição e este é um método que permite o acompanhamento do doente mesmo à distância física e que veio para ficar.
Entrevista ao Doutor Francisco Lopes, Diretor Clínico da SEPRI – Medicina no Trabalho. Publicado em Correio do Minho, edição especial do Dia Mundial do Doente 2021.